O último homem sobrevivente da tribo Juma no Brasil morreu de coronavírus, e pensa-se que os madeireiros, mineiros e lenhadores que invadiram as terras possam ter espalhado a doença.
Aruká Juma tornou-se o último membro masculino da tribo depois da morte do seu cunhado em 1999.
A tribo amazónica diminuiu de cerca de 15.000 pessoas no século XVIII para aproximadamente 100 em 1943, como resultado de doenças e massacres cometidos por lenhadores, madeireiros e mineiros. Outro massacre em 1964 deixou apenas seis membros vivos, incluindo Aruká.
Planeta a morrer.
"#ArukáJuma had 3 daughters and 14 grandchildren. To preserve the tribe's memory, some of his grandchildren have included #Juma in their surnames before Uru-Eu-Wau-Wau, something anthropologists said was rare among patrilineal Amazon tribes."#COVID19BR 🇧🇷 https://t.co/ytQiFtxLRR pic.twitter.com/OYSdADXgsO
— Nuno Valinhas (@nunovalinhas) March 12, 2021
No dia 17 de Fevereiro, Aruká faleceu num hospital em Pôrto Velho, a capital do estado brasileiro de Rondônia. Acredita-se que ele tinha entre 86 a 90 anos de idade.
A morte de Aruká foi uma consequência do coronavírus, de acordo com o seu neto Puré Juma Uru Eu Wau Wau, segundo o que foi reportado pelo The New York Times.
Os ativistas acusaram o governo brasileiro de genocídio, uma vez que o coronavírus ameaça “exterminar” tribos amazónicas isoladas, afirmando que os lenhadores, os mineiros e os compradores de terrenos invasores estão a espalhar o vírus pelos povos indígenas da floresta tropical.
Devido ao seu modo de vida isolado, os membros da tribo têm pouca imunidade a muitas doenças, deixando-os particularmente vulneráveis à propagação das mesmas.
Ao falar com o The Sun, Sarah Shenker, da organização de caridade de conservação das tribos Survival International, disse:
“Onde os invasores estão presentes, o coronavírus pode exterminar povos inteiros. É uma questão de vida ou morte”.
Ela acrescentou:
“Se as suas terras forem devidamente protegidas de estranhos, as tribos sem contacto exterior – aquelas que evitam o contacto com a sociedade – devem estar relativamente a salvo da pandemia do coronavírus.”
“Mas muitos dos seus territórios estão a ser invadidos e roubados para exploração madeireira, mineração e agronegócios, com o incentivo do Presidente Bolsonaro, que praticamente declarou guerra aos povos indígenas do Brasil.”
Até agora, mais de 970 membros de tribos morreram de coronavírus, tendo o Coordinating Body for Indigenous Organizations in the Brazilian Amazon (APIB) afirmado que a taxa de mortalidade entre as tribos é 58% mais elevada do que a população em geral, enquanto a taxa de infeção é 68% mais elevada.
A primeira esposa de Aruká, Mborehá, morreu em 1996, e as suas três filhas casaram com membros da tribo Uru Eu Wau Wau. Aruká também teve uma filha com um membro dessa tribo, Boropo Uru Eu Wau Wau, da qual se separou em 2007.
The passing of Aruká Juma, and consequently his tribe, is so incredibly sad, but I hope is also a reminder to fervently protect, preserve and revere native communities everywhere
— Naula Ndugga ☕️ (@naulapndugga) March 13, 2021
Aruká refletiu sobre a história da sua tribo num artigo do website Riscafaca.com em 2016, comentando: “Hoje em dia, sinto-me sozinho e penso muito no passado, quando éramos muitos”.
Ele acrescentou: “Éramos muitos antes dos lenhadores e dos prospetores virem matar todo o povo Juma. Na altura, os Juma eram felizes. Agora só resto eu”.
Além de ser o único sobrevivente da tribo Juma, Aruká era também o último membro fluente na língua da tribo, o que significa que muitas das tradições e rituais da tribo ficarão para sempre perdidas com a sua morte.